No primeiro semestre de 2015, o Fórum Brasileiro de Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional (FBSSAN) lançou a campanha digital “Comida é Patrimônio”. A proposta surgiu a partir da carta política “Que alimentos (não) estamos comendo?”, resultado do sétimo encontro do Fórum, realizado no ano de 2013, na cidade de Porto Alegre. Com a campanha, espera-se ampliar os olhares e o diálogo em torno do alimento e suas representações. Ao reivindicar o alimento como bem comum, contrário à condição de mercadoria, as famílias podem conquistar maior autonomia no cuidado com a saúde, e reduzir a dependência da indústria alimentícia e farmacêutica.
“Lutar por normas sanitárias mais inclusivas e adequadas à produção de base familiar e artesanal, contra o uso de sementes transgênicas e contra a concentração do mercado é defender um de nossos maiores patrimônios. Precisamos nos mobilizar, afirma Vanessa Schottz, integrante da coordenação do FBSSAN. A estratégia de comunicação da campanha é compartilhar ideias e reflexões sobre a urgência em defender as tradições alimentares e a agrobiodiversidade de Povos e Comunidades Tradicionais e camponeses. Em sua página no Facebook, o Fórum apresentou uma série de pensamentos-pimenta, utilizando frases provocativas a respeito da relação com a alimentação. No site, foram publicados artigos com a finalidade de aprofundar o debate em quatro eixos: Comida é bem material e imaterial; Comida é memória, identidade e afeto; Comida é diálogo de saberes; e Modos de produzir, comer e viver.
Neste artigo, apresentaremos o terceiro eixo da campanha que aborda a comida como diálogo de saberes. A publicação coincide com dois momentos propícios ao tema. Em 15 de outubro, comemora-se o Dia Mundial da Alimentação.A data foi instituída pela FAO, a agência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. O tema para 2015 é “Proteção Social e Agricultura: quebrando o ciclo da pobreza rural”, em referência às políticas e programas sociais por colaborarem para reduzir insegurança alimentar e a pobreza no campo. O outro fato a destacar é que na terça-feira, dia 13, a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) rejeitou Projeto de Lei da Câmara (PLC) 34/2015 que retira a obrigação de estampar o símbolo “T”, indicando a presença ingredientes transgênico nos rótulos de produtos alimentares. Essa vitória representa a garantia e manutenção do direito à informação, presente na constituição brasileira. O texto “Comida é diálogo de saberes” chega, portanto, num período fecundo para dialogar.
Comunicação e cozinhar
Para introduzir essa reflexão, começaremos pela relação entre comunicação e o ato de cozinhar. Alguns pensadores consideram o fogo e a cocção de alimentos uma revolução tecnológica. A aplicação fundamental do calor das chamas de uma fogueira teria sido a transformação culinária ao permitir tornar comestíveis coisas que naturalmente não o eram.
A prática de cozinhar teve consequências importantes para o futuro da humanidade, na perspectiva evolucionista, criacionista ou na mitologia grega, que tratam sobre a origem da vida e do universo. O cozimento de alimentos permitiu a comunicação, a mudança mais transcendental, seja entre homens e mulheres, criando as condições de adquirir a faculdade da fala; e entre deuses, por meio da coluna aromática de fumaça, simbolizando o vínculo entre céu e terra como meio concebível de contato com o divino.
Diferentes culturas em épocas distintas consideravam a fumaça exalada pela fogueira como meio de comunicação. Os antropólogos dizem que essa prática é quase universal nas culturas tradicionais. Assim, o ato de cozinhar proporcionou uma consciência de agente, levou os seres humanos a se diferenciarem entre eles mesmos, suas obras e os animais; e perceber a realidade para comunicar a outros o processo, a própria relação interpessoal e a ação (inicialmente, a transformação do alimento).
Olhando por este prisma, o diálogo fundamenta e mantém a atividade culinária. Para Juliana Casemiro, membro da secretaria executiva do FBSSAN, são saberes construídos à beira do fogão, em torno da mesa, na troca de sementes, na capina, no canteiro, ou seja, na lida do dia-a-dia. “Há nesta valorização do diálogo de saberes uma aposta de que para enfrentar uma realidade complexa, que inclui um sistema alimentar em crise, é necessário construir um pensamento igualmente complexo e novo que só tem possibilidade de nascer (e tornar-se forte) de uma combinação respeitosa e amigável entre o conhecimento formal (acadêmico) e o saber popular”, sinaliza Juliana. É bom recordar que saber e sabor vêm de sapere, ambas têm a mesma origem e estão ligadas à ação de conhecer, seja com os sentidos ou com o intelecto.
Na perspectiva do educador pernambucano Paulo Freire, trata-se de um espaço-tempo ou “lugar de encontro” em que não há saber mais e nem saber menos: há saberes diferentes. “É preciso ousar para dizer, cientificamente e não bla-bla-blamente, que estudamos, aprendemos, ensinamos e conhecemos com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e com a razão crítica. Jamais com esta apenas. É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo do emocional”. O autor define comunicação como processo de interação entre sujeitos em diálogo.
No campo da Educação Alimentar e Nutricional, a nutricionista e doutora em epidemiologia Fernanda Bairros, membro do FBSSAN, integrou a coordenação do projeto voltado para as comunidades quilombolas do Rio de Grande do Sul com insegurança alimentar. O foco do trabalho foi a cultura, a promoção da alimentação saudável e o direito humano à alimentação. A pesquisa foi realizada em 2014 no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio do Grupo de Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional, tendo a participação de docentes e estudantes de graduação da universidade. Foram estudadas 106 famílias quilombolas localizadas nas cidades de Canguçu e Pelotas.
Nessas comunidades, a cultura alimentar, além de seu caráter regional, traz também uma identidade de pertencimento étnico racial. Uma das estratégias utilizadas no estudo foi a realização de oficinas culinárias, que serviu como eixo estruturante do método educativo. As ações de educação alimentar foram construídas em conjunto com os quilombolas. Uma das oficinas teve como tema “Comida como Patrimônio”, com o intuito de reconhecer e identificar alimentos e receitas tradicionais. As conclusões preliminares da pesquisa indicam que as práticas alimentares de “antigamente” perdem espaço para as facilidades que a atualidade permite, retirando uma carga de trabalho. Assim, a massa e o pão antes feitos em casa são substituídos pelos equivalentes industrializados, pois economizam tempo e trabalho, embora considerado um aspecto positivo dos dias de hoje.
Agroecologia: diálogo de saberes e construção social
O conhecimento popular e tradicional constituiu-se no fundamento de toda a evolução da agricultura desde seu surgimento no Período Neolítico. Por estar fortemente vinculada às fontes ancestrais de conhecimento, a Agroecologia valoriza o saber popular para a construção de modelos que possam ter validade nas condições atuais. Com isso, promove-se um diálogo de saberes constante. Mediante experimentação e adaptação, outros conhecimentos, além do popular e do tradicional, podem ser incorporados ao acervo cultural dos saberes e ao sistema de valores próprios de cada povo.
A Agroecologia surge na América Latina com o intuito de atender, simultaneamente, as necessidades de preservação ambiental e de promoção socioeconômica dos pequenos agricultores. Esse movimento se caracteriza por uma clara orientação de ampliar o peso político nas sociedades latino-americanas. Um dos autores de destaque é o engenheiro agrônomo chileno Miguel Altieri, professor da Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA), onde popularizou a disciplina de Agroecologia.
Altieri expõe que o desafio agroecológico é a complexidade, a procura de um contexto mais amplo. Assim a abordagem sistêmica, trazida pela agroecologia, se contrapõe ao pensamento reducionista em que a natureza é fragmentada para ser compreendida a sua complexidade. De acordo com Altieri, cada vez mais uns números maiores de cientistas reconhecem as limitações do método objetivo, entendendo que reducionismo traz danos ecológicos e altos custos sociais. O agroecossistema é percebido como o resultado da coevolução entre processos sociais e naturais. “(…) Os processos ecológicos correm paralelamente e são interdependentes com o fluxo econômico, assim como o desenvolvimento e ou adoção de sistemas e tecnologias agrícolas que são o resultado das interações entre os agricultores com os seus conhecimentos e o seu entorno biofísico e socioeconômico”.
Na Agroecologia, os sistemas agrícolas tradicionais geram tecnologia e conhecimento. A heterogeneidade de condições locais se converge numa tecnologia receptiva, que não procura transformá-la e, sim, melhorá-la, procurando o equilibro do ecossistema na gestão dos solos. Ao preservar a biodiversidade, o modo de produção agroecológica traz de volta a diversidade de alimentos, permitindo e fomentando a liberdade de escolha de agricultores e consumidores. Para ampliar a atuação desse modelo torna-se necessário fortalecer tecidos sociais locais e dinâmicas territoriais que permitam superar a dicotomia campo-cidade.
A pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Emma Siliprandi, representante da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e do Brasil na Sociedade Científica Lationoamericana de Agroecologia (Socla), informa que o Brasil tem um movimento consistente no campo da agroecologia, que começa desde a década de 70 com os modelos de agricultura alternativa, do qual a ONG Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional) foi uma das principais. Logo em seguida, essa prática foi encampada por organizações sociais por exemplo, o movimento sindical, a CUT, a Contag, Fetraf, o MST, as mulheres camponesas, as quebradeiras de coco babaçu.
Esses grupos se uniram em torno da bandeira agroecológica no Brasil. Nesta perspectiva, criou-se em 2002 a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Por meio do Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), a ANA promoveu marcos importantes de construção da agroecologia, conforme explica Emma. No ano de 2004, foi fundada a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), que reúne esses técnicos e pesquisadores. “Chegamos a ter uma espécie de programa político comum da agroecologia, capitaneado pela ANA e ABA. Então, a gente tem um movimento social com uma plataforma política de defesa da sustentabilidade, de um outro modelo de produção, de consumo também, que seja uma agricultura baseada em: unidades familiares e na equidade social e de gênero, no respeito aos demais povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas. Eu acho que nesse sentido a gente tem um programa político mais amadurecido que nos outros países, onde ainda é uma luta muito grande de resistência da agricultura indígena camponesa”, avalia a pesquisadora.
Diálogo de saberes e as cartas políticas
As cartas políticas publicadas por organizações da sociedade civil mobilizada têm se mostrado um importante meio de comunicação. Esses documentos buscam dar protagonismo a diferentes vozes e modos de conhecimento, promovendo o diálogo num terreno árido onde apenas um sistema de comunicação de massa prevalece, que mais parece um monólogo, tal como ocorre na produção de alimentos, onde predomina a monocultura.
Em 2001, o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências: agroecologia, saúde e justiça ambiental, soberania alimentar, economia solidária e feminismo publicou sua carta política. Nos diálogos sobre Soberania Alimentar e Nutricional, Economia Solidária e Agroecologia, “as experiências apontaram o grande acúmulo na construção de alternativas ao atual modelo agroalimentar, que garantam, de forma articulada, a soberania alimentar e nutricional, a emancipação econômica dos trabalhadores e trabalhadoras nos territórios, em especial as mulheres, a promoção da saúde pública e a preservação ambiental”.
O FBSSAN, na carta política “Que alimentos (não) estamos comendo?”, destaca o estreito diálogo com enfoque agroecológico, pautado em experiências locais. Esse posicionamento tem como objetivo estimular a preservação do patrimônio alimentar e enfrentar as dinâmicas que controlam todas as etapas do sistema alimentar industrial. “A agroecologia tem se firmado como o melhor meio de produção de alimentos saudáveis que respeitam e promovem a diversidade social, biológica e cultural, trazendo benefícios para toda a sociedade e para o planeta, hoje, e garantindo o acesso a esses alimentos por gerações futuras. Um grande número de experiências locais sinaliza caminhos possíveis e exitosos na direção de reaproximar a produção e o consumo de alimentos com base em circuitos regionais ou de proximidade”, informa o documento.
A carta política do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) dedica um capítulo especial à comunicação, onde afirma que o Brasil agroecológico desejável está “fundado em uma comunicação plural, dialógica, horizontal e em rede, modelo, aliás, já desenvolvido por inúmeras organizações, redes e movimentos que integram a Articulação Nacional de Agroecologia”. O texto evidencia o intercâmbio e o fortalecimento dessas experiências, tal qual na carta do FBSSAN, por criar novos espaços e trocas de saberes para o enfrentamento ao agro e ao hidronegócio. Também reafirma a importância das práticas de uso sustentável da biodiversidade dos povos indígenas, das comunidades tradicionais e da agricultura familiar camponesa. Essas populações conservam os bens comuns, como o solo, entre outros, os quais são de valor inestimável para o conjunto da sociedade.
A Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) publicou neste mês de outubro a Carta agroecológica de Belém, fruto do nono encontro. Destaca-se nesse texto o protagonismo das mulheres na produção agroecológica e na produção de conhecimentos. “A voz e a sabedoria das mulheres estão intrinsicamente atreladas à promoção da Vida. O conhecimento das mulheres é construído de forma solidária e coletiva, rompendo com o individualismo competitivo e a racionalidade da ciência moderna. A participação das mulheres é fundamental para a construção da sociedade justa, igualitária e agroecológica que desejamos”. Também é ressaltada a importância do protagonismo da juventude na promoção e construção do conhecimento agroecológico.
Assim, quem produz alimentos preserva e valoriza o patrimônio alimentar, bem como o reconhecimento dos saberes associados às práticas tradicionais construídas historicamente, a partir da interação entre as formas de manejo e os ecossistemas locais. A emergência em articular diferentes conhecimentos está sendo formulada por autores como o economista mexicano Enrique Leff. Segundo ele, a crise ambiental precede a crise da civilização Ocidental moderna em que há o “desconhecimento do conhecimento”. Aponta, ainda, a contradição básica entre racionalidade econômica e natureza. O modo de pensar levou à construção e institucionalização de um modo de produção antinatural, insustentável.
“A contradição entre a racionalidade econômico-tecnológica e a racionalidade ambiental chama a renovar o pensamento e a percepção, o sentimento e a ação”. Ele afirma que o diálogo de saberes é um encontro de seres, aí incluído o meio ambiente, rompendo com a dicotomia sujeito e objeto do conhecimento ao reconhecer as potencialidades do real, e incorporando valor e significações no saber, que reside em nossas identidades culturais.
O coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre (Pesacre), Eduardo Amaral, conhecido como Cazuza, atua com comunidades e povos tradicionais. Ele busca trabalhar com a construção de soluções para enfrentamento dos problemas e desafios contemporâneos desses grupos.
“A vivência no campo é utilizada como subsídio nos espaços de participação para a proposição e monitoramento de políticas públicas”, explica Cazuza, citando conselhos, fóruns, redes, a exemplo do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), a ANA e o FBSSAN. Seu trabalho está focado no resgate e fortalecimento do conhecimento tradicional, que aliado ao conhecimento acadêmico geram soluções e caminhos adequados a realidade local e cultural.
“Os desafios passam pela regularização fundiária, alternativas ao desmatamento e queimadas na produção, resgate e conservação de sementes nativas, uso sustentável dos recursos naturais (florestal, fauna, ictiofauna, solo), produção de alimentos, fortalecimento da organização social entre outros. São temas tratados pela Agroecologia e Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional”, completa o coordenador.
Diálogo de sabres: construção social de mercados
Como fazer chegar na mesa dos brasileiros os alimentos preservados pelos saberes dos guardiões da nossa agrobiodiversidade? A carta do FBSSAN ressalta a importância do desenvolvimento, identificação e fortalecimento de ações inovadoras no campo do abastecimento alimentar, particularmente no que tange à construção social de mercados.
A carta pontua ainda que esta construção social de mercados deve se orientar pela busca da proximidade social, da adequação aos agroecossistemas e da valorização da cultura alimentar local, assim como das diversas formas de produção para o auto-consumo, de forma a estabelecer referências para a construção de políticas neste campo. Conforme a carta do III ENA, a agroecologia se contrapõe ao regime agroalimentar hegemônico, funda-se em princípios e práticas que favorecem a aproximação entre agricultores e consumidores, priorizando circuitos curtos de comercialização; a conservação e a valorização da agrobiodiversidade e das culturas alimentares regionais; o uso sustentável dos ecossistemas; a facilitação e a popularização do acesso aos produtos agroecológicos.
Além das cartas políticas, outros documentos públicos reforçam a importância da cultura alimentar, pautada no diálogo de saberes. São eles o Guia Alimentar para a População Brasileira e o livro Alimentos Regionais Brasileiros, ambos publicados pelo Ministério da Saúde (MS). No primeiro, que traz orientações práticas sobre alimentação, os dois princípios que o norteiam são: “A alimentação é mais que ingestão de nutrientes”, considera as dimensões culturais e sociais das práticas alimentares que, combinados com outros aspectos, influenciam a saúde e o bem-estar. Outro princípio é “Diferentes saberes geram o conhecimento para a formulação de guias alimentares”, mostra que a combinação de saberes científicos, tradicionais e populares são necessários para elaborar recomendações sobre as decisões sobre o que colocar no prato.
O livro sobre alimentos regionais chama atenção para o fato de que muitos alimentos nutritivos e saborosos que eram apreciados e faziam parte das refeições familiares, tem sido aos poucos, esquecidos ou desvalorizados. Entre as principais razões do abandono gradual desses alimentos estão as transformações oriundas da urbanização, da industrialização, do desenvolvimento de tecnologias, da expansão da indústria de alimentos, da difusão da mídia e do discurso científico. Tais mudanças afetam de forma diferenciada os grupos sociais de acordo com sua história e aprendizagem.
O livro destaca ainda que para promover a alimentação saudável torna-se necessária a defesa da biodiversidade de espécies, o reconhecimento da herança cultural e o valor histórico do alimento, além do estímulo à cozinha típica regional, contribuindo, assim, para o resgate das tradições e o prazer da alimentação. Valorizar uma agricultura mais sustentável, mantendo o equilíbrio do ambiente e respeitando o conhecimento local, é fundamental para entender a importância da origem dos alimentos e melhorar a qualidade da alimentação.
Nesse sentido, a Agroecologia se apresenta como uma das ferramentas para a preservação do nosso patrimônio alimentar, a agricultura familiar camponesa e os povos tradicionais. Os camponeses produzem não só alimentos saudáveis, mas também respostas e soluções para as questões da nossa sociedade.
Para Juliana Casemiro, que integra o Fórum, “a comida é diálogo que não necessita de palavras. Pela convivência e coexistência os conhecimentos relacionados às formas e os tempos de semear e de colher são passadas de uma geração para a outra, assim como os conhecimentos sobre os temperos, os preparos, os ritos e os sabores tradicionais e regionais”, assinala Juliana, que é doutora em Educação em Ciências e Saúde e professora de nutrição da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Esses diálogos têm a ver com cuidar na dimensão social, cultural e ambiental. “O diálogo de saberes pode ser revolucionário para pensar um sistema alimentar mais justo e sustentável porque representa uma chance (re)construir relações com o consumo e com o ambiente a partir de uma noção da “justa medida”, como trata o Leonardo Boff”, conclui. Freire nos deixa uma definição sobre o dialogar em que a coparticipação dos sujeitos, implica em reciprocidade, é encontro e não transferência de saberes: “dialogar não significa invadir, manipular, ou fazer ‘slogans’. Trata-se de um devotamento permanente à causa da transformação da realidade (…). O diálogo não pode se deixar aprisionar por qualquer relação de antagonismo (…)”.
A campanha Comida é Patrimônio é realizada em parceria com a Malagueta Comunicação.
#comidaepatrimonio
#pensamento pimenta
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Equipe Campanha Comida é Patrimônio
Texto: Juliana Dias e Mónica Chiffoleau
Revisão: Mariana Moraes, Juliana Casemiro, Vanessa Shottz e Rozi Billo
Edição de imagens: Carolina Amorim
Referências bibliográficas
ALTIERI, Miguel.Agroecologias: bases científicas para uma agricultura sustentável. Tradutores: Rosa I. Peralta, Eli L. de Jesus e Patricia Vaz. 3a. Edição. Rio de Janeiro, 2012.
CONTRERAS, J; e MABEL, G. Alimentação Sociedade e Cultura. Trad.: Mayra Fonseca e Barbara Atie Guidali, Rio de Janeiro, FioCruz, 2011.
FREIRE, Paulo. Professora sim, Tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d’ água, 1998.
LEFF, Enrique (2012) Aventuras da epistemologia ambiental. Da articulação das ciências ao diálogo de saberes. Tradutora: Silvana Cobucci Leite, São Paulo, Cortez.
LIMA, A, V. Comunicação e cultura: as ideias de Paulo Freire. 2. Ed. Ver. Editora UNB. Brasília, 2011.