Pesquisa realizada no Mato Grosso mostra o desequilíbrio ambiental e os impactos sobre a vida da população causados pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar e soja.
Pesquisa realizada após dois anos de investigação em Lucas do Rio Verde e Barra do Bugres, municípios do Mato Grosso, mostra o desequilíbrio socioambiental e os impactos sobre a vida da população causados pela expansão das lavouras de cana-de-açúcar e soja. Concentração de terra, diminuição da oferta de emprego, contaminação por agrotóxicos, uso intensivo da água são temas da publicação, fruto de um projeto do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad) coordenado pela Fase.
O estudo destaca os impactos da expansão da cana-de-açúcar em direção à Amazônia e à região da Bacia do Alto Paraguai, onde nascem os principais rios do Pantanal. Além da contaminação pela Vinhaça e outros resíduos da produção do etanol, o gasto de água impressiona: para atingir o montante esmagado na safra 2007/2008, por exemplo, foram utilizados mais de 895 milhões de m³ de água. Essa quantidade é suficiente para abastecer 5,3 milhões de domicílios por um ano.
Percebe-se que a expansão da cana-de-açúcar está fortemente relacionada à campanha do governo brasileiro para tornar-se grande exportador de etanol. Com a crise econômica de 2008 as exportações diminuem, mas o aumento da frota brasileira – influenciada por escolhas como a redução do IPI – seguiu pressionando o campo a produzir o agrocombustível. Neste momento de protestos no país, que nasce motivado pela precariedade e alto preço do transporte público, chama atenção a prevalência de investimento governamental no modo individual de deslocamento. Esta perspectiva revela a ligação da vida urbana com a produção do espaço rural.
Muitos outros impactos da cana-de-açúcar se assemelham aos gerados pela soja. Dados da publicação destacam que a alta produtividade do grão nada tem a ver com a geração de empregos. Entre 1985 e 2006 o volume produzido saltou de 18,278 toneladas para 52,464 milhões de toneladas, mas os postos de trabalho minguaram de 1,694 milhão para 419 mil.
A especulação sobre o preço da terra – com valorização de 75% entre 2010 e 2012 no município mato-grossense Sinop, por exemplo – amplificam os conflitos na região pela pressão do agronegócio sobre os pequenos agricultores. Outro fator importante é a alta contaminação por agrotóxicos: o Brasil é o maior consumidor do mundo destas substâncias e 45% deste consumo são destinados ao monocultivo da soja. Enquanto as populações sofrem com a situação no território, a maior parte da produção e da riqueza é exportada – na forma de grãos ou ração para alimentação de animais.
O lançamento do livro do economista Sergio Schlesinger “Dois casos sérios em Mato Grosso” está sendo feito nas cidades mato-grossenses Sinop e Barra do Bugres, e na capital Cuiabá. Veja aqui a programação: www.formad.org.br/?p=
Fonte: Fase. Fotos: (1) e (2) Reprodução/ Envolverde; Capa: Caio Bruno/Formad.